O nível de endividamento das economias desenvolvidas continuou a subir nos últimos anos, em resultado do esforço assumido pelos países para apoiar a economia após a pandemia. A dívida pública deverá atingir 28% do produto interno bruto (PIB) em 2038. As previsões são do FMI, que avisa que os países enfrentarão custos de financiamento mais elevados nos próximos anos e, se não forem implementadas medidas para baixar a dívida, irão enfrentar maiores pressões orçamentais, com risco para a estabilidade financeira.
“Os países devem começar a reconstruir de forma gradual e credível as reservas orçamentais e garantir a sustentabilidade a longo prazo da sua dívida soberana“, escrevem três quadros do FMI, que incluem Vítor Gaspar, o ministro das Finanças português no tempo da troika.
O artigo publicado no blog do FMI, assinado por Tobias Adrian, Vitor Gaspar e Pierre-Olivier Gourinchas, refere que “se não for possível alcançar melhorias no saldo primário dos governos para compensar taxas reais mais elevadas e um menor crescimento potencial, a dívida soberana continuará a crescer. Isto irá testar a saúde do setor financeiro”.
De acordo com os especialistas, “com níveis de dívida elevados, os governos têm menos capacidade para prestar apoio aos bancos em dificuldades e, se o fizerem, os custos dos empréstimos soberanos poderão aumentar ainda mais”. Por outro lado, quanto maior for a exposição dos bancos à dívida pública do país, “mais exposto fica o seu balanço à fragilidade fiscal do país”.
“Taxas de juro mais elevadas, níveis mais elevados de dívida soberana e uma maior proporção dessa dívida no balanço do setor bancário tornam o setor financeiro mais vulnerável”, resumem.
Depois de anos de taxas de juro em níveis historicamente baixos, que conduziram a uma forte compressão dos juros da dívida soberana, os principais bancos centrais foram forçados a subir as suas taxas diretoras para conter a escalada da inflação. Com o índice de preços a regressar a níveis mais próximos do objetivo dos bancos centrais, os investidores mundiais estão a antecipar o primeiro corte de juros na Europa e nos EUA no próximo mês de junho.
É mais fácil reconstruir as reservas orçamentais enquanto as condições financeiras permanecem relativamente acomodatícias e os mercados de trabalho robustos. É mais difícil fazê-lo quando forçado por condições de mercado desfavoráveis.
Mesmo que os bancos centrais iniciem um novo ciclo de descidas de taxas, os juros deverão permanecer em níveis superiores aos registados nos últimos anos, o que vai encarecer os custos de financiamento da dívida soberana. Isto num ambiente macroeconómico menos favorável, alerta o mesmo artigo.
“Se não for possível alcançar melhorias no saldo primário dos governos para compensar taxas reais mais elevadas e um menor crescimento potencial, a dívida soberana continuará a crescer. Isto irá testar a saúde do setor financeiro”, reforçam os especialistas, alertando que “os custos de financiamento reais dos governos, famílias e setores corporativos podem ser mais elevados no futuro“.
Os especialistas alertam que “as reformas estruturais não devem ser adiadas. Ao reforçarem o crescimento futuro, são a melhor forma de ajudar a estabilizar a dinâmica da dívida“. “É mais fácil reconstruir as reservas orçamentais enquanto as condições financeiras permanecem relativamente acomodatícias e os mercados de trabalho robustos. É mais difícil fazê-lo quando forçado por condições de mercado desfavoráveis”, remata o artigo assinado por Vítor Gaspar.